Extensionistas da Emater que integram o Projeto Grãos vão instalar nesta safra cerca de 50 unidades demonstrativas e de referência com a aplicação da tecnologia do manejo integrado de pragas na cultura da soja. Pesquisa de campo realizada na última safra pela Emater com 260 agricultores no Estado mostra que durante o ciclo de desenvolvimento da soja são realizadas em média 4,21 aplicações de inseticidas.
A expectativa, explica Nelson Harger, coordenador do projeto, é que com o uso de táticas de manejo e monitoramento de pragas há a possibilidade de redução de até 50 por cento no número de aplicações, sem comprometer os resultados de produtividade e rentabilidade. “Vamos mostrar com o acompanhamento de campo que o agricultor pode produzir a mesma coisa, gastando menos e sem colocar em risco a saúde do meio ambiente e das pessoas”.
O programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) está baseado em dois fundamentos técnicos. Um deles é o monitoramento das lavouras. É através desta prática que o produtor pode identificar a ocorrência ou não de pragas, calcular a população desses insetos, verificar a presença de inimigos naturais das pragas e avaliar os níveis de danos na plantação em termos de desfolha. “A vistoria é feita com metodologia desenvolvida pela Embrapa. O instrumento básico é o pano de batidas. As informações levantadas nessa visitação à lavoura são usadas, depois, pelo profissional que presta assistência técnica para decidir qual o caminho a ser tomado”, diz Harger.
O segundo fundamento técnico do MIP é a busca da manutenção do equilíbrio ambiental. “Caso o dano causado por determinada praga justifique o seu controle, o agricultor deve optar por aquele método que provoque o menor impacto sobre as diversas populações de insetos presentes na plantação. Poderá ele, por exemplo, recorrer a uma alternativa biológica ou usar até um produto químico, mas que tenha ação seletiva, que atua sobre a praga preservando os demais insetos benéficos presentes na área”, diz o coordenador do projeto Grãos da Emater.
As principais pragas que atacam as plantações de soja são a lagarta e o percevejo. A primeira representa preocupação no início do ciclo da cultura; o segundo, na fase mais adiantada, durante a formação dos grãos. O que vem acontecendo hoje com o percevejo reforça a importância da ação que a Emater pretende intensificar a partir deste ano. “O uso indiscriminado e sem critérios de agrotóxicos tem levado ao surgimento de populações, desse inseto, resistentes a alguns inseticidas recomendados pela assistência técnica. Fazendo uma analogia, é o mesmo que acontece quando nós, seres humanos, usamos os antibióticos de forma errada, estimulando, então, o aparecimento de bactérias mais resistentes. Em todas as regiões do Paraná já foi identificado este problema de resistência do percevejo aos agrotóxicos”, relata o extensionista da Emater.
O percevejo durante o período de entressafra sobrevive na vegetação que fica no entorno das áreas usadas para o plantio da soja ou mesmo sobre esta aproveitando algumas plantas invasoras como hospedeiro. São populações pequenas. No entanto, o produtor muitas vezes no afã de aproveitar o trabalho de aplicação do herbicida usado para fazer a dessecação do mato antes do plantio, mistura no tanque do pulverizador um pouco de inseticida para eliminar de vez esses insetos.
Prática totalmente errada, dizem os técnicos. Primeiro, porque poderá não ter o controle que espera. Segundo, e mais importante ainda: vai matar também os insetos que poderiam, lá na frente, na fase mais avançada de desenvolvimento da cultura, ajudar a controlar o próprio percevejo e lagartas. Ele provoca o desequilíbrio sobre o ambiente da plantação, facilitando até o ataque mais precoce das lagartas desfolhadoras e mesmo dos percevejos.
A tecnologia de Manejo Integrado de Pragas da Soja foi desenvolvida pela Embrapa ainda no final da década de 70. Neste período, a proposta experimentou avanços no campo, apoiada, principalmente, pela alternativa de controle biológico da lagarta feito com o baculovírus. O método era simples: o produtor coletava na plantação lagartas contaminadas e doentes por este vírus e, depois, preparava um macerado para pulverização da lavoura. A tecnologia era e continua sendo eficiente. No entanto, exige do sojicultor maior atenção. Exige, por exemplo, o monitoramento periódico da plantação. Ao contrário dos agrotóxicos, o baculovírus não mata o inseto na hora e isso preocupa o sojicultor que teme perder parte da sua produção.
CONVENCIONAL - O trabalho que a Emater vai realizar agora com os produtores, instalando as 50 unidades demonstrativas e de referência, tem como finalidade mostrar que a tecnologia do MIP funciona e é segura. Ao lado de cada área orientada pelo extensionista, para fazer a comparação, o produtor conduzirá outra, com tratamento convencional. No final da safra, com a pesagem da produção e contabilidade dos custos, a família atendida pode conferir as vantagens do método proposto.
O produtor receberá todas as semanas a visita do extensionista da Emater que ajudará a fazer o monitoramento da lavoura, deixando orientação sobre as medidas que devem ser adotas na sequência. As unidades demonstrativas do MIP serão, ainda, utilizadas para a capacitação e orientação de outros sojicultores, em dias de campo ou encontros técnicos. Isso será feito durante o ciclo da cultura ou no final da safra, com a apresentação dos resultados obtidos.
Segundos técnicos da Emater, as razões que levam o sojicultor a desprezar a tecnologia do MIP são as mesmas que influenciaram o abandono das práticas de conservação de solos, por exemplo. Para quem não se lembra, na década de 80 e início de 90, com o financiamento do Banco Mundial, o Paraná realizou uma verdadeira revolução conservacionista com o programa de manejo integrado de solos e água em microbacia. Um trabalho que estancou o problema da erosão dos solos e ajudou a melhorar a conservação das estradas que cortam o espaço rural.
Resolvida a dificuldade enfrentada, veio a tecnologia do plantio direto na palha, as máquinas mais modernas e maiores, e o produtor aos poucos foi retirando da propriedade os sistemas de terraceamento implantados. Hoje, a erosão voltou a ser uma preocupação, novamente. “A busca da produtividade a qualquer custo, a oferta de processos tecnológicos que dão ao produtor maior comodidade são fatores que estão na raiz desse problema que identificamos. Então, muitas táticas de monitoramento e de manejo das lavouras estão sendo abandonadas. Identificamos isso em relação às pragas, doenças, plantas invasoras e até de manejo dos solos e das águas”, avalia Harger.
Para realizar o trabalho manejo integrado de pragas na cultura da soja, a Emater buscou apoio da Embrapa. Pesquisadores do órgão, neste mês de novembro, realizaram dois cursos de atualização para 100 extensionistas integrantes do Projeto Grãos, da Emater, e que vão atuar na instalação das unidades demonstrativas e de referência e orientar os agricultores com a tecnologia do MIP. Em todo o Estado, outros 400 profissionais, de cooperativas e empresas da iniciativa privada serão treinados e devem se somar ao esforço do órgão oficial de assistência técnica e extensão rural que visa a retomada do Programa de Manejo Integrado de Pragas na cultura da soja.
Projeto divulga tecnologia para redução de agrotóxicos na soja
Pesquisa de campo realizada na última safra pela Emater com 260 agricultores no Estado mostra que durante o ciclo de desenvolvimento da soja são realizadas em média 4,21 aplicações de inseticidas
Publicação
25/11/2011 - 15:20
25/11/2011 - 15:20
Editoria