A propriedade do agricultor Deoclécio Jacomelli, de Realeza, no Sudoeste do Paraná, passou por inúmeras melhorias. A estrada que dá acesso ao sítio recebeu calçamento com pedras irregulares e no terreno onde ele planta soja e milho foi feito terraceamento para a conservação do solo. Esta foi uma das 16 mil propriedades paranaenses beneficiadas pelo Programa de Gestão do Solo e Água em Microbacias, promovido pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, com apoio dos municípios e financiamento do Banco Mundial.
Entre 2014 e 2017, o governo estadual firmou 163 convênios com os municípios para a adoção de boas práticas para a preservação do solo e da água, para evitar erosões e a contaminação de microbacias que são usadas no abastecimento de água. “Temos cerca de 30 práticas agronômicas para conservar o solo e a água, que são o maior patrimônio do agricultor e elementos essenciais para o sucesso da produção”, afirma o secretário de Estado da Agricultura, Norberto Ortigara.
Foram investidos R$ 28,3 milhões nas ações, que incluem a conservação de solos com terraceamento, construção de abastecedores comunitários para pulverizadores, proteção de fontes de água e de Áreas de Proteção Permanente, manejo de dejetos animais, melhorias de sistemas de abastecimento, instalação de fossas sépticas ecológicas, adequação de estradas e carreadores e aquisição de maquinários.
EVITA PERDAS – Para Jacomelli, além da preservação, a adequação de sua propriedade a boas práticas evitou as perdas na lavoura. “Nós já tínhamos feito o terraceamento antes, mas ele estava baixo. Com o programa, aumentamos e fizemos em toda a lavoura. Isso é importante porque não causa erosão, a água fica retida ali e vai penetrando no solo sem abrir valetas ou fazer estragos”, conta. “Quando tem erosão a água vai toda para o rio e o solo enfraquece, tem que adubar mais. Dá muito prejuízo, estraga a terra e polui as sangas e nascentes”, explica.
A assistência técnica nas propriedades é feita pelo Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Na Microbacia São Roque – um dos afluentes do Rio Sarandi, que abastece o município de Realeza – foram atendidos 70 agricultores familiares, que trabalham principalmente com a pecuária leiteira e o cultivo de grãos.
Além do terraceamento nas propriedades, em Realeza também foi adquirida uma plantadeira para ser utilizada comunitariamente por cerca de 30 famílias. “Decidimos ficar com uma plantadeira de milho que é utilizada na forma de rodízio. A máquina veio em uma hora boa, porque a maioria não tinha condição, dependia dos equipamentos de produtores maiores e nem sempre podia utilizar na hora que precisava”, diz o agricultor João Hageman.
MATAS CILIARES – A criação de vacas para produção de leite merece atenção especial em locais onde há nascentes ou riachos, porque os animais podem degradar essas áreas. Na região Sudoeste, que tem a pecuária leiteira como das principais atividades de produção, houve uma atenção especial do programa de Microbacias nesta área. Somente no município de Santa Izabel do Oeste, foram construídos 8 mil metros de cercas para proteger as matas ciliares e as Áreas de Preservação Permanente (APP), que também receberam recomposição de vegetação.
Uma das propriedades beneficiadas foi a de Giovani Pilz, que cria cerca de 40 vacas e novilhas e mora na cabeceira do Rio Sarandizinho, também afluente do Sarandi. “Foram fornecidos os palanques e os arames e nós fizemos a proteção da mata ciliar com o objetivo de melhorar a qualidade de água e preservar. O rio corre em uma área sombreada e protegida, com menos chance de ter erosão”, afirma.
No município, foram atendidas cerca de 140 famílias de agricultores. Além da construção das cercas e plantio de mudas nas APPs, também foram feitos terraceamento em nível, readequação de estradas e carreadores, aquisição de um distribuidor de esterco e calcário e a construção de um reservatório para abastecimento de pulverizadores, evitando que os agricultores usem as águas dos córregos, que poderiam ser contaminadas.
Para o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente de Santa Izabel do Oeste, Hélio Vansetto, a parceria entre o Estado e o município foi essencial para trazer melhorias nas propriedades rurais. “O grande desafio é proteger a natureza e produzir ao mesmo tempo, buscar alternativas para alcançar este equilíbrio. Com a parceria entre o Estado, a prefeitura e os agricultores, conseguimos preservar uma área de 2,6 mil hectares”, destaca. “Nós fizemos o projeto na microbacia Sarandizinho e vamos iniciar o projeto em outra, porque a preservação do solo e da água é o que há de mais importante para a produção de alimentos”, diz.
SUCESSÃO RURAL – A preservação das microbacias e o trabalho de assistência técnica promovido pela Emater contribuem com a sucessão rural, incentivando que as novas gerações permaneçam no campo. É o caso da família Biazin, de Ampére. Mesmo fazendo faculdade de Biologia, Éderson Biazin continua trabalhando na propriedade junto com os pais, Gentil e Noemi.
“Eu consigo assimilar o meu curso com o trabalho no sítio e na universidade, além de manter contato com professores de Medicina Veterinária, com quem posso trocar experiências para melhorar o cuidado com o gado. Pretendo continuar com a produção de leite no sítio”, conta Éderson. “A produção leiteira é uma fonte de renda muito grande na nossa região e a gente vai continuar com isso. Os benefícios que vêm do Estado ajudam muito o agricultor, que recebe suporte em sua propriedade para continuar a atividade do leite”, afirma Gentil.
Na microbacia do Rio Ampére, que abastece o município, dezenas produtores foram beneficiados com terraceamento, adequação do solo, melhoria de pastagens e adequação de estradas e carreadores. De acordo com o técnico agrícola da Emater do município, Pedro Radaelli, as melhorias resultaram na contenção de enxurradas e evitaram perda no solo.
“Foram feitas em torno de 100 hectares de conservação, em áreas onde já existiam sistemas de terraceamento, mas que com o passar do tempo foram diminuindo. O trabalho veio para estruturar novamente esses locais”, explica Radaelli. “Um dos principais ganhos é que as propriedades vão continuar produtivas, garantindo que as novas gerações permaneçam no campo”, afirma.
É na continuidade do trabalho da família que aposta Josemar Biazin Henning, sempre levando em conta a preservação da microbacia. “Cinco anos atrás, antes de serem feitas as bases na nossa propriedade, uma chuva de no máximo 50 milímetros era suficiente para a água passar por cima de uma ponte que tem aqui. Hoje, com chuvas de 60 ou 70 milímetros isso não acontece”, explica. “Este trabalho veio em boa hora. Melhorou muito a produtividade e vai melhorar mais ainda”, diz.