Pesquisador avalia
efeitos de antibióticos
em animais de produção

Estudo de pós-doutorado é feito na UEL. Administração do medicamento em animais é realizada no Brasil desde 1940 e gera controvérsias
Publicação
11/08/2015 - 14:02

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Uma pesquisa sobre os efeitos dos antibióticos na flora intestinal de equinos ganhou destaque na comunidade científica no exterior. O estudo de pós-doutorado Avaliação dos Efeitos de Antibióticos em Animais de Produção - Bovinos, Suínos e Aves foi feito pelo pesquisador Márcio Costa, graduado em Medicina Veterinária na Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Segundo Costa, animais de produção de carne para consumo humano não recebem hormônios para ganhar peso. "O uso de hormônios para isso é proibido no Brasil, mas a administração de antibióticos é feita aqui e nos Estados Unidos desde os anos de 1940, quando os produtores descobriram que esses medicamentos, em doses baixas, faziam os animais ganharem peso", explica Márcio Costa.
Ele acrescenta que em alguns países da Europa o procedimento é proibido e que o uso de antibióticos gera controvérsias. "Uma delas é que existe resíduo do medicamento na carne que consumimos e que isto pode trazer impacto para nosso organismo, causando alterações em nossas bactérias. Outra linha defende que a quantidade é pequena para causar danos à saúde humana", observa Costa.
O pesquisador destaca que existe uma teoria que aponta um aumento da obesidade na população a partir dos anos de 1940 que coincide com o início do uso antibióticos em animais de produção.
"É importante esclarecer que se trata de uma teoria, o que está comprovado cientificamente é que administrar diariamente antibióticos em concentração baixa em animais de laboratório faz com que eles ganhem peso."
Entretanto, existem outros estudos que correlacionam o uso de antibióticos por mulheres durante a gestação a uma tendência maior de obesidade na criança.
MULTIRRESISTENTES - Dentro do quadro de possibilidades, Costa ressalta que há outra teoria que relaciona o surgimento de bactérias multirresistentes a essa prática.
"As bactérias desenvolvem mecanismos de resistência a fatores ambientais que podem agredi-las, como ao frio, ao calor e a certos antibióticos."
Para uma melhor compreensão, o pesquisador esclarece usando a seguinte equação: "Vamos supor que temos aqui 100 bactérias, duas delas possuem genes resistentes ao antibiótico X, quando eu administro este antibiótico ao animal, 98 bactérias morrem e duas vão permanecer vivas, essas duas vão se multiplicar e teremos 100 bactérias resistentes ao antibiótico X."
Outro problema apontado por Costa está relacionado ao meio ambiente. A maioria das bactérias se encontra no intestino. Quando os animais defecam essas bactérias multirresistentes se espalham no meio ambiente e isso pode contaminar as áreas de produção agrícola e pessoas que têm contato com os animais. “Se isso está ou não relacionado com o aumento de bactérias multirresistentes em ambientes hospitalares é algo que precisa ser melhor investigado”, observa.
O experimento com aves e suínos foi feito na Fazenda Escola da UEL e com bovinos em outra fazenda da região. Já o sequenciamento do DNA das bactérias foi feito no Canadá que oferece alta tecnologia com custos menores que no Brasil.
O PESQUISADOR - Costa cursou residência e PhD na Universidade de Guelph, no Canadá. Depois de seis anos no exterior, voltou à UEL como convidado do programa Jovens Talentos da Capes e para concluir o pós-doutorado no programa de pós-graduação de Ciência Animal, do Centro de Ciências Agrárias.
A pesquisa está em fase final de cruzamento de dados e tem supervisão do professor Amauri Alfieri, atual pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação.
Ele destaca a importância deste estudo para o programa de pós-graduação em Ciência Animal que tem conceito 6 na Capes, conferindo-lhe o nível de excelência.
"Esse vínculo internacional entre a UEL a Universidade de Guelph, no Canadá melhora ainda mais nossa qualidade de ensino", ressalta o professor. "Essa inserção internacional também é muito profícua para a UEL", acrescenta.
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