O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) está lançando o livro Cultivo de Seringueira no Paraná. A obra é um minucioso compêndio sobre procedimentos técnicos em todas as etapas de cultivo – da seleção de áreas apropriadas ao plantio de seringais, formação de mudas e implantação do seringal até a extração do látex.
“São quase 30 anos de pesquisas condensados no livro. O Iapar começou a estudar a adaptação da seringueira no Paraná ainda no final da década de 1980”, diz o engenheiro florestal André Luiz Medeiros Ramos, autor da obra juntamente com os pesquisadores Jomar da Paes Pereira e Alex Carneiro Leal.
E esses estudos apontam para o elevado potencial da atividade no Estado, seja do ponto de vista agronômico, econômico, social ou ambiental. “Há extensas áreas favoráveis ao cultivo, e seringueira pode ser uma opção para pequenos e grandes produtores, em plantios puros ou em sistemas agroflorestais”, afirma Ramos.
O diretor de pesquisas Tiago Pellini diz que a produção de borracha pode ser uma atividade relevante em estratégias de desenvolvimento rural e industrial do Paraná. “Parcerias entre o governo e o setor privado vêm sendo desenvolvidas para estimular sua expansão, e nesse contexto o aporte de conhecimento técnico é fundamental. Daí a importância desta obra”, acrescenta.
A PLANTA – Natural da região amazônica, a seringueira (Hevea brasiliensis) pertence à família das euforbiáceas, a mesma da mandioca, mamona e pinhão-manso.
Segundo o pesquisador André Ramos, não se sabe muito sobre o início da obtenção de borracha, mas ela ganhou importância econômica quando, em meados do século 19, o americano Charles Goodyear e o inglês Thomas Hancock desenvolveram a técnica da vulcanização – tratamento químico que torna a borracha natural flexível e resistente –, o que impulsionou a fabricação de pneus e a indústria automobilística.
A partir de então, ingleses, franceses e holandeses vislumbraram a possibilidade de cultivar a seringueira nas suas colônias do Sudeste da Ásia, com condições de solo e clima parecidas com a Amazônia.
Tudo o mais se sucedeu a partir de um caso de biopirataria protagonizado pelo botânico inglês Henry Wickham. Em 1876 ele coletou 70 mil sementes de seringueira e as levou para Londres. A partir delas foram obtidas 2.397 plântulas, posteriormente enviadas aos jardins botânicos de Peradenya e Heneratgota, no Ceilão (atual Sri Lanka). Um ano depois, em 1877, a espécie foi levada também para o Jardim Botânico de Singapura.
Em 1895 os ingleses iniciaram a plantação comercial na Malásia, país que se tornou um dos maiores produtores de borracha natural. De único produtor e exportador de borracha natural no início do século 20, o Brasil passou a importador a partir de 1952, situação que perdura até hoje.
MERCADO – De acordo com Ramos, o mercado para a borracha se mostra bastante favorável a médio e a longo prazo. Estima-se que há um déficit de aproximadamente 85 mil toneladas de borracha natural no mercado mundial.
Cerca de 60% da borracha natural consumida no Brasil é importada. “Para que o país atinja autossuficiência, será necessário o plantio de cerca de 700 mil hectares de seringais até 2020”, afirma.
Situação mercadológica faz da seringueira uma opção rentável para a diversificação de culturas, com uso de florestas plantadas em locais onde seu cultivo não é tradicional, como a Zona da Mata em Pernambuco, o Sul do Maranhão, o litoral Sul da Bahia, os Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e, ainda, o Noroeste do Paraná.
Como dificuldades, Ramos alerta para a acentuada redução de mão de obra no meio rural e problemas de pragas e doenças, ainda mais preocupantes com a limitação de agrotóxicos registrados para seringais.
PARANÁ – A seringueira chegou ao Paraná em plantios no Litoral, mas a partir dos anos 1980 se desenvolveu na região Noroeste, expansão que se deu de modo tecnologicamente inadequado pela falta de tradição no cultivo, carência de mão de obra especializada e de técnicos com conhecimentos específicos no cultivo e manejo, segundo Ramos.
Hoje são cultivados 1.500 hectares no Estado, em plantios localizados principalmente nos municípios de Nova Esperança, Paranapoema e Santo Inácio. “O potencial de expansão da área é grande, em parte em função da condição de temperaturas registradas no Paraná, que favorecem a produtividade de látex”, diz Ramos.
O livro Cultivo da Seringueira no Paraná custa R$ 50. Pode ser adquirido na sede do Iapar, em Londrina, ou pela página www.iapar.br.