Um seminário promovido nesta quarta-feira (23) reuniu profissionais de saúde pública e especialistas da área de zoonoses e animais peçonhentos em Curitiba. O evento foi promovido pela Secretaria de Estado da Saúde e contou com a presença de 100 participantes das 22 Regionais de Saúde do Estado, universidades, hospitais e conselhos de classe.
“As atualizações com especialistas e a troca de experiências permitem que os profissionais se preparem melhor para atender as demandas específicas de cada região do Estado. Por isso a importância de termos um público diversificado neste seminário”, diz a superintendente de Vigilância em Saúde, Júlia Cordellini.
A programação do seminário incluiu temas relevantes no contexto paranaense, como os acidentes causados por aranhas e escorpiões, morcegos e raiva, teniose e cisticercose, peixes peçonhentos e brucelose humana.
BRUCELOSE – Um dos destaques do evento foi a apresentação da nova versão do protocolo de brucelose humana desenvolvido no Paraná e considerado único no país. Em 2017, a primeira versão do documento foi premiada na 15ª Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (Expoepi).
A brucelose é uma doença causada por bactérias e transmitida por meio de contato direto com animais infectados, ingestão de leite e produtos lácteos contaminados. O protocolo paranaense permitiu que todos os casos da doença no Estado recebessem o mesmo tratamento.
“Não havia um protocolo nacional para o tratamento da brucelose humana. Hoje o nosso documento é referência”, explica a chefe da Divisão de Zoonoses e Intoxicações, Tânia Portella Costa, uma das idealizadoras da primeira versão do protocolo.
PEIXES – O seminário também abordou os acidentes causados por peixes como arraias, bagres e baiacus. Como explica o responsável pelo Programa Estadual de Vigilância dos Acidentes por Animais Peçonhentos, Emanuel Marques da Silva, há uma grande diversidade de animais perigosos desconsiderados como tal pelo público, como peixes, abelhas e formigas.
Ele lembra que a realidade dos animais peçonhentos é muito complexa, exigindo a exploração da biologia e dos hábitos de cada espécie para entender melhor o comportamento do animal em ambiente com o homem. “Nós estamos compartilhando o espaço com esses animais e precisamos conviver com isso”, explica Silva.
Na avaliação da médica Lilimar Regina Nadolny Mori, de Cascavel, que participou do seminário, as palestras foram produtivas. Segundo ela, nem sempre médicos e demais profissionais de saúde conseguem acompanhar o ritmo da produção científica na área de zoonoses e animais peçonhentos por causa das demandas do dia a dia e por isso os treinamentos são tão importantes.
“Um evento como esse é uma forma agradável de promover a troca de informações. Precisamos estar sempre preparados para darmos orientações atualizadas a quem nos procura. É nossa obrigação”, conclui.
(BOX)
Brasil registrou 125.156 acidentes com escorpiões em 2017
Uma das especialistas convidadas para participar do seminário foi a bióloga do Instituto Butantan de São Paulo, Denise Maria Cândido, que falou sobre acidentes causados por escorpiões.
Ela explicou que no Brasil o número de ocorrências com esses animais é grande. Só em 2017 foram registrados 125.156 acidentes com escorpiões em todo país, número bem maior, por exemplo, do que o de ocorrências com serpentes, 30.369 no ano passado.
A pesquisadora ressaltou que desde sua origem os escorpiões demonstram uma grande adaptabilidade e resistência às mudanças ambientais. Fósseis de 110 milhões de anos já mostram animais com praticamente a mesma morfologia dos escorpiões atuais.
“Os escorpiões já estavam aqui na Terra antes do surgimento do homem e possuem um incrível poder de adaptação, o que os ajuda a se proliferar e se expandir pelo território nacional”, explicou.
Conforme a pesquisadora, das 180 espécies de escorpiões que existem no Brasil, apenas quatro delas (Tityus serrulatus, Tityus bahiensis, Tityus stigmurus e Tityus paraensis) possuem interesse médico por poderem causar acidentes com gravidade. As demais são inofensivas ou causam pouco dano.