Sanepar amplia uso de lodo de esgoto como adubo agrícola

Mais um grupo de agricultores do Sudoeste receberá o produto, que é indicado para grandes culturas, como soja, milho e trigo, e também para áreas de reflorestamento
Publicação
27/07/2011 - 14:50
Editoria

Confira o áudio desta notícia

Técnicos da Sanepar estão preparando o segundo lote de biossólido (adubo agrícola do lodo do esgoto) para repasse a agricultores no município de Dois Vizinhos, Sudoeste do Estado. Desta vez, dez agricultores vão receber o adubo para aplicar em suas propriedades. Eles integram a Associação Unidos Venceremos, criada há cinco anos na comunidade de Flor da Serra e que reúne 21 produtores que tiram o sustento da agricultura familiar.
O primeiro lote de adubo foi entregue em maio do ano passado, quando 450 toneladas foram destinadas ao Colégio Agrícola de Francisco Beltrão para o cultivo de grãos, como milho e soja. O técnico em agropecuária Valdir da Silva, da Emater, é o responsável pelo receituário agronômico e caracterização das áreas em que o adubo será aplicado em Dois Vizinhos. Ele informa que foram realizadas reuniões na comunidade para explicar o projeto aos produtores. “Eu sempre fui um entusiasta dessa iniciativa da Sanepar. Além de uma série de nutrientes que enriquecem o solo e aumentam a produção, o projeto também traz economia aos produtores”, afirma.
Valdemiro Felippus May é um dos agricultores que se inscreveram para receber parte do adubo. Ele calcula que a iniciativa poderá render uma economia de mais de R$ 1,5 mil por alqueire, preço que pagaria se fosse comprar outro adubo orgânico. Outro sócio, Olivério Borba, que há 48 anos vive na comunidade, diz que o projeto de oferta do adubo foi bem recebido pela associação. “Trabalhamos em grupo e sempre buscamos alternativas para melhorar a produção”, afirma.
SEGURANÇA – Antes de ser transformado em adubo, o lodo é submetido à caracterização química (metais pesados, poluentes orgânicos e potencial agronômico) e biológica (agentes patogênicos), atendendo a todas as exigências da Resolução 375, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Atualmente, a Unidade de Gerenciamento de Lodo (UGL) Marrecas, de Francisco Beltrão, incorpora, além de Dois Vizinhos, os municípios de Marmeleiro e Renascença.
O programa de uso do lodo de esgoto existe na Sanepar desde 2000. Os primeiros agricultores a utilizar o biossólido são da Região Metropolitana de Curitiba, onde somente no período de 2007 a 2010 foram distribuídas 91 mil toneladas de lodo de esgoto, para 78 agricultores.
O lodo apresenta quantidade importante de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, que podem substituir em grande parte os adubos químicos. Os estudos confirmam que a produtividade, comparada ao cultivo sem lodo, aumenta significativamente, podendo alcançar até 50%, dependendo do solo.
LODO – O biossólido, ou lodo de esgoto, é um resíduo sólido resultante do tratamento do esgoto doméstico. Do ponto de vista agronômico, o lodo apresenta potencial fertilizante, pois possui significativa quantidade de nitrogênio, fósforo e matéria orgânica. Além disso, o processo de estabilização alcalina prolongada – que torna o lodo utilizável – faz dele um eficiente corretivo da acidez do solo.
A sua utilização é apropriada para grandes culturas, como soja e milho, trigo, e também para reflorestamento. Contudo, não é indicado para hortaliças ou culturas cujas partes comestíveis têm contato direto com o solo, como batata e mandioca.
APLICAÇÃO – O programa de uso do lodo do esgoto para a agricultura faz parte da parceria entre a Sanepar e Emater/PR (Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural). De acordo com o programa, a Emater determina as áreas onde o biossólido pode ser aplicado, conforme as determinações do Conama, e o produtor recebe gratuitamente o lodo e acompanhamento técnico dos engenheiros agrônomos.
O lodo de esgoto deve ser utilizado obedecendo rigorosamente todas as orientações técnicas que garantem a segurança do produto, da mesma forma que qualquer outro fertilizante.
HISTÓRICO – O programa foi desenvolvido com a participação de mais de 200 pesquisadores de 27 instituições, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR), PUC-PR, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Senai-Cetsam, Emater, Tecpar e Embrapa e das principais universidades de nove estados brasileiros. Além do licenciamento do IAP, o uso do insumo é autorizado pelo Ministério da Agricultura.
A pesquisa da Sanepar – que definiu os parâmetros e critérios da utilização do biossólido – foi a vencedora do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, na categoria Processo, em dezembro de 2007. A Companhia concorreu com outros 114 projetos de todo o País. Trata-se da principal premiação para a pesquisa do Brasil e é promovida pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

GALERIA DE IMAGENS