Em nova reavaliação de safra, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento estima que a safra agrícola 2016/17 poderá superar 40 milhões de toneladas, entre as três safras plantadas no Paraná. O relatório do Departamento de Economia Rural (Deral), que acompanha mensalmente a evolução das lavouras, já registrou as perdas iniciais na safra de trigo, devido à geada recente, seca durante a evolução da cultura e, ainda, menor área de plantio.
De acordo com o secretário Norberto Ortigara, ainda há riscos pela frente. “Estamos praticamente na metade do inverno, sendo assim, poderão ocorrer novas perdas para os cereais de inverno como aveia, cevada, centeio, trigo e triticale”, explicou. Para o trigo, principal cereal de inverno no Paraná, as geadas ocorridas no mês de junho não causaram prejuízos às lavouras. Já as de julho causaram alguns danos que começam a ser contabilizados.
“Podemos considerar essa situação como normal no período de inverno”, observou Ortigara. É importante ressaltar que as grandes lavouras já escaparam do período mais vulnerável. No entanto, o alerta permanece para o trigo e outros grãos de inverno, cujas plantas estão suscetíveis às quedas drásticas de temperaturas que poderão ocorrer até o fim da estação. “Mesmo assim, o Paraná mais uma vez colhe uma grande safra”, comemora o secretário.
SAFRA DE VERÃO - Para o diretor do Deral, Francisco Carlos Simioni, a safra de grãos de verão foi encerrada no Paraná, consolidando-se com um volume de 25 milhões de toneladas, um aumento de 24% sobre a safra do ano passado. A segunda safra de grãos, em andamento, está com expectativa de aumento de 30% sobre o mesmo período do ano passado, devendo atingir 14 milhões de toneladas puxada pelo milho segunda safra.
“Nossas atenções estão concentradas na cevada e no trigo, que representam cerca de 81,5% da área cultivada no inverno e 88,3% da produção esperada. Até agora estamos bem, mesmo convivendo com frentes frias no final de abril, nos primeiros dez dias de junho e na segunda quinzena de julho com ocorrências de geadas”, explica Simioni.
Apesar do frio, chuva e agora seca, esse ano os produtores têm driblado as variações abruptas do clima. “De maneira geral, as estimativas feitas pelo Deral continuam apontando que o Paraná vem de uma sequência de boas safras, beneficiado pelo clima, como ocorreu nas demais regiões produtoras de grãos do mundo na safra 2016/2017”, observou Simioni.
TRIGO - O trigo plantado no Paraná já registra perdas de 6% na produção devido às geadas recentes e período de seca que atingiu as lavouras do Oeste e Centro do Estado. Fora isso, houve redução de área ocupada pela cultura, que este ano foi 13% menor.
A expectativa inicial do Deral era colher três milhões de toneladas de trigo e agora foi reavaliada para 2,8 milhões de toneladas, uma perda de 200 mil toneladas do grão.
O engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho, prevê novas perdas com a previsão com a ocorrência de, pelo menos, mais duas geadas até o final do inverno, conforme estão prevendo os especialistas em clima. Além disso, essas perdas serão melhores dimensionadas à medida que as plantas crescem e revelam com mais intensidade os danos ocorridos. Segundo Godinho, 56% da área plantada (955.835 hectares) ainda está exposta a risco de geadas.
O mercado esboçou uma reação tímida a esse cenário e o produtor ainda está com o produto cotado abaixo do custo de produção. O preço de venda está estimado em R$ 36 a saca, enquanto o custo foi de R$ 38 a saca para o produtor plantar. A preocupação é que o período ainda é de entressafra e quando for de colheita, a tendência é de caírem os preços pagos ao produtor.
MILHO - Com metade da segunda safra de milho já colhida, é possível prever um grande volume do grão este ano no Estado. As duas safras devem totalizar 18,5 milhões de toneladas, cerca de cinco milhões acima da colheita obtida no ano passado.
A primeira safra, já encerrada, rendeu 4,9 milhões de toneladas, um aumento de 47% sobre igual período no ano passado. A segunda safra, com a colheita em curso, deverá atingir 13,7 milhões de toneladas, um aumento de 35% sobre o mesmo período do ano passado. Apesar de um bom volume, a segunda safra de milho apresenta uma perda de 3% em relação ao potencial produtivo estimado pelo Deral, que apontava para uma colheita de 14,2 milhões de toneladas.
De acordo com o analista e administrador Edmar Gervásio, a primeira safra de milho do Paraná contribuiu com 47% a mais no volume e 24% a mais na área plantada. A segunda safra contribuiu com 35% a mais no volume e 10% na área plantada.
A produção de milho paranaense atende ao mercado interno no suprimento das cadeias produtivas de suínos e aves. Mas, este ano, a tendência é aumentar o ritmo de exportações que podem atingir entre três e quatro milhões de toneladas, ressaltou Gervásio.
Com maior oferta, os preços pagos aos produtores caíram de R$ 30 a saca, há um ano, para cerca de R$ 18 a saca, atualmente – uma queda de 48%. De acordo com o técnico, os preços retornaram próximos à média histórica, de R$ 20 a saca, devido ao excesso de oferta do grão.
FEIJÃO - A segunda safra de feijão já está totalmente colhida e atingiu um volume de 339 mil toneladas, 14% maior que a produção obtida no mesmo período do ano passado. Apesar disso, as lavouras apresentavam um potencial produtivo estimado pelo Deral, de 455 mil toneladas.
Segundo o economista Methódio Groxco, houve uma perda de 25% sobre o potencial produtivo em decorrência das primeiras geadas que atingiram as lavouras de feijão no Sudoeste do Estado, no mês de abril. Além disso, ocorreram chuvas em excesso entre os meses de maio e junho que também prejudicaram as lavouras.
Segundo Groxco, a comercialização do feijão este ano está mais lenta porque o mercado está com muita oferta, com grandes volumes do grão vindos de outros estados e também da Argentina. Além disso, no período de férias reduz-se o consumo de feijão, o que vem provocando queda nos preços pagos ao produtor.
No mês de julho, o feijão de cor está com queda de 42% e o feijão preto, com 70% de redução.
SOJA - A safra de soja se consolidou com um volume de 19,6 milhões de toneladas, 19% a mais que no ano passado. A comercialização está mais lenta que no ano anterior por causa da queda nos preços. Segundo o economista Marcelo Garrido, em 2016, nesse mesmo período, o produtor vendeu a soja por R$ 75 a saca. Este ano, está cotada a R$ 60 a saca, uma redução de 20% devido ao excesso de oferta no mercado e também por causa do câmbio, que não está muito atraente. Diante disso, o produtor está retendo o produto o quanto pode, explica Garrido.