A Copel e Itaipu Binacional assinaram nesta quarta-feira (04), em Foz do Iguaçu, um protocolo de intenções para desenvolver projetos nas áreas de geração distribuída e mobilidade elétrica.
O objetivo é elaborar um plano de trabalho que contemple o aprimoramento da produção de energia na modalidade de microgrids, ou pequenas redes que garantem a produção da própria energia em propriedades rurais. Além disso, o trabalho conjunto também promete fomentar o uso de veículos elétricos no Estado.
A assinatura do protocolo aconteceu durante o evento Parcerias para o Desenvolvimento da Região Oeste, que, além de prever incentivos à geração distribuída e fontes alternativas de energia, também firmou convênios com diversas prefeituras para fomentar o desenvolvimento sustentável dos municípios do entorno do Lago de Itaipu.
As microgrids são um conceito de geração e uso da energia que promete ser o futuro do sistema elétrico. A partir do convênio firmado, as duas empresas de energia já devem implantar um projeto-piloto nesta modalidade, no município de São Miguel do Iguaçu, oeste do Estado. Ele será baseado na geração de energia a partir de biodigestores de dejetos de suínos, e a expectativa é que o sistema comece a operar ainda no segundo semestre deste ano.
As microgrids consistem, basicamente, em uma espécie de “ilha de energia”, na qual a geração, o armazenamento e o consumo podem funcionar conectados ou não à rede de distribuição. Uma tecnologia que tem ganhado corpo, especialmente na Europa e Estados Unidos, para auxiliar no funcionamento da rede e funcionar como backup rápido e eficiente em casos de contingência, especialmente em regiões remotas.
No Paraná, o projeto significa não apenas uma resposta à inovação do setor elétrico dentro do conceito de geração distribuída, com vistas à otimização do uso de recursos energéticos, mas também uma proposta que trará mais resiliência para a rede da Copel.
Segundo o presidente da Copel, Antonio Guetter, é inclusive uma forma de contribuir com o que tem sido feito dentro do Programa Mais Clic Rural, que resulta em investimentos robustos na rede elétrica das áreas rurais do Estado, com recursos de monitoramento que permitem intervenção remota ou deslocamento de equipes com muito mais rapidez a áreas onde há queda de energia. “Somadas a isso, as microgrids funcionam como um suporte a mais em casos de contingenciamento, já que são uma espécie de área de confiabilidade, em que o conjunto de suas instalações pode ficar inerte à rede e continuar alimentando um conjunto de clientes enquanto a rede principal é reparada”, afirma. “O que nós vamos fazer aqui é um projeto em que a geração da região possa atender, com toda segurança possível, a quantidade total de consumidores para a qual ela tenha capacidade”, acrescentou.
Embora as microgrids já comecem a ser implantadas no Brasil em estruturas como condomínios, por exemplo, a diferença do projeto paranaense é que, em vez de beneficiar apenas um grupo específico de consumidores, pode se estender a vizinhos e outros usuários que não sejam, necessariamente, parte direta do sistema. “Tudo isso porque a rede da Copel fará seu monitoramento e controle, sendo preparada para gerir essa energia e direcioná-la de forma inteligente. A grande novidade é usar o recurso e ajudar outro consumidor que nada tem a ver com a origem do sistema, usando a rede”, diz Guetter.
PASSIVO AMBIENTAL - Além do benefício no campo da energia, a solução vem para resolver o passivo ambiental resultante da dificuldade de destinação das fezes dos animais, já que o Oeste é forte produtor de proteína animal.
“Nós aproveitamos esse subproduto pra fazer a geração de energia, a Copel usa sua rede para distribuí-la, as prefeituras participam também. É um jogo ganha-ganha. Essa parceria com a Copel é fundamental para Itaipu, que não tem redes de distribuição. Para nós, é uma alternativa para fazer fluir essa energia que pretendemos gerar com os produtores da região”, afirmou o diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, Luiz Fernando Leonne Vianna.
PARA COMEÇAR - Nesta primeira implantação, o projeto de microgrid vai contemplar a adaptação de uma planta de biodigestores que armazena a energia gerada a partir do gás metano dos dejetos dos animais. Trata-se de um microgerador que, até então, atua com geração distribuída compartilhada.
Os investimentos, na ordem de R$ 1 milhão, serão aplicados pelas duas empresas no sistema de controle do gerador, para prepará-lo para interagir com a rede, e nas adaptações e equipamentos para a rede de distribuição.
Nesta primeira planta, a geração é modesta, de 150 kVA – suficiente para abastecer até 8 consumidores agroindustriais, que é o perfil da vizinhança. “A escala é pequena, por enquanto, mas caminhamos para atender outras plantas de tamanho maior. Há potencial para adaptarmos plantas com até 1 megawatt de energia, capazes de atender até 800 consumidores em cada ilha”, diz o superintendente de Smart Grid e Projetos Especiais da Copel, Julio Omori.
Mais que isso, há potencial para fomentar negócios da própria Copel. “Nada impede que no futuro criemos as nossas próprias microgrids”, afirma o presidente Antonio Guetter. Uma alternativa que pode fazer parte do futuro da rede de distribuição, exigindo investimentos menores e resultando em tarifas mais baixas para atender áreas remotas. “É o futuro que se desenha por meio do compartilhamento de energia.”
MOBILIDADE - As duas empresas também são parceiras na viabilização da eletrovia, uma rede de eletropostos que vai permitir o abastecimento de veículos elétricos em toda a extensão da BR-277, cortando o Estado de leste a oeste. Pelo protocolo assinado, além de dar origem à primeira rodovia 100% coberta por fonte de abastecimento elétrico no Brasil, as companhias vão promover estudos relativos ao impacto da inserção de veículos elétricos na frota paranaense, bem como gerenciar o futuro aumento da demanda por abastecimento por meio de fontes renováveis e geração distribuída.