Oportunidade para se manifestar e interagir fez um garoto de 12 anos sair de seu isolamento social, redução de índice de violência e outras histórias de resgate de cidadania têm seu espaço de debate no 2.º Encontro Estadual do programa Centro da Juventude, em Curitiba, nesta terça e quarta-feira (8 e 9). A secretária da Família e Desenvolvimento Social, Fernanda Richa, destacou, na abertura do evento, a importância das equipes para dar alma e vida aos centros distribuídos pelo estado.
Técnicos e coordenadores dos Centros da Juventude, gestores municipais da assistência social e de outras pastas vinculadas ao programa participam da capacitação. Além da troca de experiências, estão compartilhadas instruções técnicas para melhorar atendimento nas atividades ofertadas no Centro. “O poder público deve resgatar quem está em situação vulnerável e é para isso que estamos trabalhando incansavelmente”, declarou a secretária da Família.
Cada região, cada território tem suas características e os centros têm a liberdade para desenvolver atividades que mais atendam à população daquele local e seu entorno. Esses espaços fornecem oportunidades de convivência para adolescentes e jovens de 12 a 29 anos, mas é aberto a toda a comunidade. “Nada é estático, temos que nos capacitar e adaptar ações para melhor atender aqueles que mais precisam, mas também temos que trabalhar com o coração”, afirmou Fernanda.
OPORTUNIDADE - Rosiane Martins de Sousa, coordenadora Centro de Juventude de Cambé, disse que o espaço é único na cidade, aberto à juventude, que tem acesso gratuito à cultura, esporte e qualificação profissional. A coordenadora lembrou de um educando, que tinha sido afastado da família e estava no abrigo para crianças em sua situação.
Para ela, o rapaz poderia ficar em situação de rua não fosse o acolhimento e o apoio dado pelo Centro. “Passou pelo nosso acompanhamento psicossocial e qualificação profissional. Conseguiu se empregar e, hoje, com 18 anos, já não pode continuar no abrigo, mas tem profissão, emprego e condições de conquistar seu espaço no mundo”, descreveu Rosiane.
RISCOS - Os centros da juventude foram instalados em áreas com alto risco e vulnerabilidade, para dar alternativa a jovens e adolescentes, que antes tinham somente a rua como espaço de convivência. A estratégia deu certo. Em Ivaiporã, no Vale do Ivaí, o Centro da Juventude fez baixar a criminalidade na região e reduziu as detenções de adolescentes da comunidade.
Gertrudes Bernardes, diretora do Departamento de Assistência Social de Ivaiporã, explica que o bairro em que foi instalado o Centro da Juventude concentra cerca de 3,4 mil moradores, aproximadamente 10% do total do município. “A população da cidade toda comenta a mudança que houve no bairro, que era conhecido pela situação de vulnerabilidade e de criminalidade. A delegacia local, há dois anos, apreendia pelo menos um adolescente por dia e hoje passa-se semana sem nenhuma apreensão”, comentou Gertrudes.
A unidade oferece oficinas e atividades, que tem obtido reconhecimento da comunidade, como capoeira e teatro. Flávia Graef Kuss, coordenadora do Centro, comentou que uma das lutas é tirar os garotos e garotas das ruas e das drogas. “Um adolescente obteve apoio do Centro para ser encaminhado a uma clínica de reabilitação e hoje largou as drogas e trabalha como nosso estagiário, e agradece a estrutura que lhe permitiu se libertar do vício”, relatou.
CONVÍVIO – Bruna Daiane de Lima, coordenadora do Centro da Juventude de Umuarama, disse que a equipe consegue atender 220 crianças e adolescentes no serviço de convivência e fortalecimento de vínculo, com dez oficinas. “Muitas mães nos relatam que o filho mudou o comportamento em casa e na escola”, disse.
Porém, seus olhos se encheram de lágrima ao relatar a história de um menino, de 12 anos, que não olhava e nem falava com ninguém. Vivia fechado em si, com muita dificuldade de interação. “Hoje, ele conversa com os colegas das oficinas, nos cumprimenta e nos chama pelo nome. A evolução foi enorme e emocionante”, comentou Bruna.
ESTRUTURA – No Paraná, exitem 26 Centros da Juventudes, construídos desde 2011. Foram investidos mais de R$ 70 milhões com recursos do Fundo Estadual para a Infância e Adolescência (FIA/PR). Os locais escolhidos partiram de estudo feito pela Secretaria da Família em parceria com o Conselho Estadual dos Direitos das Crianças e Adolescentes.
O programa é baseado em três pilares: cidadania, convivência e formação, e faz parte da rede socioassistencial de Proteção Social, com os dos Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, da Proteção Social Básica da Política de Assistência Social.