Campanha mostra violências “invisíveis” contra a mulher

A agressão física é o último estágio da violência contra mulheres. Ataques psicológicos destroem a autoestima feminina e impedem o pleno exercício da cidadania.
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24/11/2017 - 18:10
Editoria

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Ter a opinião desrespeitada, a privacidade no celular invadida ou ser seguida e vigiada também são formas de violência contra a mulher. Para dar visibilidade a essas agressões nem sempre percebidas, a Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social lança neste sábado (25) a campanha “Você pode mais!”. Em 1999, a Organização das Nações Unidas instituiu 25 de novembro como o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher.

A secretária estadual da Família, Fernanda Richa, lembra que muitas mulheres só buscam auxílio quando a situação já evoluiu para agressão física, mas a violência começa antes e nas pequenas e sutis atitudes. “Elevar a autoestima da mulher é fundamental para que ela identifique os abusos socialmente invisíveis e consiga mudar sua vida, sem medo, antes de ter sua integridade comprometida”, disse a secretária. 

A campanha aborda direitos, autoestima e liberdade das mulheres, mostrando que pequenos gestos ou palavras podem se caracterizar como violência. “As depreciações e humilhações cotidianas, seja por a mulher emitir uma opinião ou mesmo pelas roupas que usa, minam a autoestima feminina. Essa situação já é de violência e pode evoluir para agressões mais sérias”, explicou Ana Cláudia Machado, coordenadora estadual da Política da Mulher, na Secretaria da Família.

NOTIFICAÇÕES – De acordo com levantamento feito pela Delegacia da Mulher de Curitiba, 47,16% das ocorrências registradas são de agressão física e 37,65% de agressões psicológicas e morais. “Sabemos que há subnotificação, ou por desconhecimento de direitos ou por medo da mulher em denunciar a violência. A campanha questiona essa cultura que silencia, desvaloriza a mulher e atinge todas as camadas sociais da sociedade, independente da condição financeira”, acrescenta Ana Cláudia.

Ainda de acordo com os dados da delegacia, em 76% das queixas as vítimas são mães, mas apenas 11% delas atribuem aos filhos o motivo para continuar com o agressor. As que responderam ter relação afetiva com o agressor somam 60% e 61% não dependem financeiramente dele.

Apesar de a maioria dos casos ter relação com o companheiro, a campanha não se limita ao contexto doméstico. As situações abordadas podem ocorrer em qualquer ambiente e em qualquer nível de relacionamento com o agressor.

ESTRATÉGIA – No filme da campanha, mulheres de vários perfis criam empatia ao explicar que as violências sutis não são normais. Estimula as mulheres a não aceitarem essas situações, sem vitimização, mas com atitude e confiança. Dessa forma, busca-se sensibilizar não só quem sofre violência, mas também a família e a sociedade, incluindo os agressores. “Com a disseminação de informação, formamos uma rede de observação contra a violência, aumentando a proteção à mulher”, diz Ana Cláudia.

Os filmes serão divulgados pela televisão por redes sociais para ampliar o alcance da campanha e unir as mulheres na cultura contra a violência. “A internet atravessa fronteiras e as peças produzidas podem ser enviadas por qualquer dispositivo móvel”, explicou Ana Cláudia.

POLÍTICA – O Paraná estabeleceu o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDM), em 2013, com participação paritária do poder público e da sociedade civil. Em seu objetivo, o conselho elabora ou implementa políticas públicas sob a ótica de gênero para garantir a igualdade de oportunidades e de direitos às mulheres em relação aos homens, assegurando o pleno exercício da cidadania.

No ano seguinte, foi aprovado o Plano Estadual de Políticas Públicas para Mulheres e, em 2015, criada a Coordenação da Política da Mulher, na Secretaria da Família e Desenvolvimento Social. No mesmo ano, começou a funcionar as Unidades Móveis de Atendimento à Mulher do Campo e da Floresta, mais conhecidas como Ônibus Lilás, para levar informações sobre direitos, com assistência jurídica, e serviços para quem vive longe de centros urbanos. Desde então, fez 5.500 atendimentos. Também tem investido constantemente para fortalecer a rede de proteção á mulher com a implantação de delegacias especializadas e outras unidades de atenção ao público feminino.

DENÚNCIAS -Denúncias anônimas podem ser feitas pelo telefone 181. As informações são encaminhadas aos órgãos de proteção para tirar a mulher da situação de violência. Em casos extremos, deve-se ligar para o 190 e chamar a Polícia Militar, que irá intervir pontualmente na ocorrência.

DATA – Em 25 de novembro de 1960, as irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa, as “Las Mariposas”, foram mortas a mando do ditador Rafael Leônidas Trujillo, da República Dominicana. As três combatiam o regimee seus corpos foram encontrados em um precipício, estrangulados, com os ossos quebrados. Em 1999, as irmãs foram homenageadas pela ONU ao darem origem ao Dia Internacional da NãoViolência contra a Mulher.

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