Arqueólogos resgatam urna cerâmica intacta na área da Usina Mauá

A peça, de origem indígena, será enviada para análise laboratorial que vai determinar a sua idade
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18/05/2011 - 16:50
Editoria

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Pesquisadores retiraram da área do reservatório da Usina Hidrelétrica Mauá uma urna cerâmica de origem indígena praticamente intacta. A urna foi encontrada durante os trabalhos de escavação para salvamento do patrimônio arqueológico existente na área de abrangência do empreendimento. É a primeira peça dessa natureza encontrada inteira desde 2008, quando teve início o programa de resgate, previsto no Projeto Básico Ambiental do empreendimento.
A urna recém-resgatada tem cerca de 50 centímetros de diâmetro e, segundo os pesquisadores, costumava ser usada por grupos indígenas para armazenamento de água ou para sepultamento de ossadas. No mesmo local foram encontradas panelas menores usadas para preparar e armazenar alimentos. A retirada com segurança de artefatos como esses chega a demorar até quatro dias, como conta o técnico em arqueologia Maurício Hepp. “É um trabalho minucioso e que exige muita paciência. A peça é retirada ainda com solo dentro para evitar que se quebre. Depois, todo o bloco é enviado ao laboratório para análise e as amostras retiradas vão servir, inclusive, para datação da peça, ou seja, para identificar a idade aproximada dela”, explica.
Hepp explica ainda que a acidez característica do solo da região torna pouco provável a descoberta de restos de alimentos ou ossadas: “A matéria orgânica ali se decompõe muito rápido, mas iremos estudar tudo com bastante cuidado para ver o que descobrimos. Em outros sítios, encontramos restos de fogueiras e amostras de carvão”.
A descoberta das peças foi um grande feito, especialmente naquele local. “Estamos fazendo o resgate em uma região tomada por atividades de agricultura e pecuária que degradam muito os sítios arqueológicos que não são muito profundos. Essa urna maior, por exemplo, apareceu com cerca de 20 centímetros de profundidade e o fundo dela alcançou em torno de 70 centímetros”, conta Maurício Hepp.
Além da composição das peças, o estudo feito no âmbito desse projeto busca identificar o estilo e, assim, a origem do material dentro da tradição indígena. Até agora, já houve registro de vestígios deixados por índios Guarani desde há 2 mil anos até o período de contato com os brancos, nos séculos XVI e XVII. Há também indícios de passagem de grupos de tradição Kaingang e Taquara.
HISTÓRICO – A demarcação e salvamento de sítios arqueológicos teve início no canteiro de obras da Usina Mauá em abril de 2008 e durou sete meses – período em que foram escavados 14 sítios e retiradas mais de 23 mil peças como fragmentos cerâmicos originados de vasilhames, estruturas de fogueiras, fragmentos de carvão, pontas de lanças e outros artefatos de origem indígena.
Numa segunda etapa de trabalho, o Consórcio Energético Cruzeiro do Sul, responsável pela instalação da hidrelétrica, estendeu o projeto de salvamento do patrimônio arqueológico à área que futuramente será alagada para formação do reservatório da usina, que compreende terras dos municípios paranaenses de Telêmaco Borba e Ortigueira, às margens do rio Tibagi. Essa fase teve início em janeiro de 2010 e deve durar até julho deste ano. Ela inclui o resgate de mais de cinquenta sítios, de onde já foram retirados mais de 10 mil artefatos e fragmentos cerâmicos.
Esse minucioso trabalho de salvamento, que começa com a limpeza da superfície dos sítios, inclui ainda as etapas de levantamento topográfico, decapagem do solo, escavações e coleta de material. Os vestígios encontrados são levados para um laboratório de pesquisas, onde são inventariados, fotografados e acondicionados corretamente.
Ao final das atividades, o destino das peças será definido de acordo com orientação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, como explica o superintendente geral do Consórcio Cruzeiro do Sul, Sergio Luiz Lamy: “Antes, todo esse valioso material recolhido na área da usina estava sujeito à degradação, mas agora as peças serão enviadas para museus e instituições de pesquisa que atendam às exigências do Iphan para ajudar a contar a história da ocupação do nosso território”.
Os profissionais contratados pelo Consórcio Energético Cruzeiro do Sul (da empresa Habitus Assessoria e Consultoria) promoveram também ações de educação e conscientização entre os trabalhadores nas obras de instalação da usina e nos municípios abrangidos, em atividades que atingiram desde crianças até universitários.

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